A (re)elaboração dos currículos em regime de colaboração com os municípios é um passo essencial para que a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) se torne realidade nas escolas de todo o país. Veja como contribuir
Desde que a BNCC foi homologada, em dezembro de 2017, secretarias estaduais, em colaboração com os municípios, se mobilizam para produzir as primeiras versões dos currículos de seus estados alinhados ao documento. Entre julho e agosto, elas deverão ser submetidas a consultas públicas, por meio de uma plataforma disponibilizada pelo próprio Ministério da Educação: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/consultapublica/ ou em plataformas próprias. Também estão sendo organizados seminários na maioria dos estados.
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A ideia é que professores, gestores e a comunidade escolar possam enviar sugestões para deixar os currículos com a cara da região, atendendo às expectativas e necessidades de específicas de cada rede, e incorporando a diversidade dos municípios ao documento. Para que as contribuições sejam mais significativas, é preciso conhecer bem o que a BNCC determina e identificar oportunidades de melhorar o que está proposto no currículo. Seja contextualizando um objeto de conhecimento ou habilidade dentro da riqueza sociocultural da região, seja acrescentando novas competências e habilidades que fazem sentido para os alunos do estado, seja sugerindo práticas pedagógicas que podem ajudar a aprimorar o trabalho do professor.
Organizamos aqui algumas sugestões e possibilidades do que levar em consideração na hora de contribuir com o currículo ou referencial curricular. Confira!
1. CONTEXTUALIZAÇÃO: adequar o que está proposto pela BNCC à realidade local, usando as características regionais (culturais, históricas, sociais, naturais) e a própria vivência dos alunos.
exemplos: em Língua Portuguesa, a parte de literatura não traz recomendações para a escolha dos autores das obras, abrindo espaço para que as redes prestigiem os escritores de sua região. Em Ciências da Natureza, o módulo sobre lixo pode contemplar as questões municipais/estaduais em relação à coleta e reciclagem de materiais. Em Matemática, para trabalhar estatística, use a vivência em sala de aula: quantos alunos costumam faltar no período de um mês? Quantos dias de aula estão ensolarados e em quantos chove? O dia a dia na escola pode servir de gancho para trabalhar diversas habilidades.
2) COMPLEMENTAÇÃO: os currículos podem adicionar habilidades, módulos e componentes inteiros que não estão na BNCC.
exemplos: no município de São Paulo, programação e letramento digital farão parte do currículo a partir do 1º ano do Ensino Fundamental. E no estado de Roraima, que faz fronteira com a Venezuela, além de Língua Inglesa, que é obrigatória, o currículo incluirá Língua Espanhola.
3) APROFUNDAMENTO: é possível incluir sugestões de aprendizagens mais específicas, de práticas pedagógicas para a sala de aula, do que se espera do professor e de orientações para a avaliação.
exemplos: em Ciências da Natureza, há uma habilidade que prevê caracterizar os principais ecossistemas brasileiros. Ela pode ser aprofundada quando os alunos consultam fontes de dados como mapas, cartas geográficas e inventários da fauna e da flora. O professor também pode propor, por exemplo, que eles comparem o ecossistema local com outros ecossistemas do Brasil. Já em Geografia, para analisar as mudanças na paisagem causadas por diferentes tipos de sociedade, além de pinturas e fotografias o currículo pode propor o uso de imagens do Google Earth para comparar ambientes urbanos e rurais, analisando os tipos de construção e as condições espaciais, como o relevo e a hidrografia.
4) INTERDISCIPLINARIDADE: sempre que o mesmo tema aparecer em disciplinas diferentes, e no mesmo ano, os professores podem trabalhar juntos, garantindo sinergia entre as aprendizagens de diferentes componentes.
Exemplos: Geografia e Ciências da Natureza podem trabalhar juntos as habilidades ligadas aos ecossistemas brasileiros. Língua Portuguesa e Artes podem se unir por meio do teatro. História e Geografia encontram várias intersecções em habilidades ligadas à urbanização. E Língua Inglesa também pode se unir a esses dois componentes por meio de debates sobre os processos de colonização, discutindo a expansão do idioma nas Américas, África e Ásia.
5) DESENVOLVIMENTO INTEGRAL: o currículo deve ajudar o aluno a se desenvolver em todas as suas dimensões, por meio das 10 Competências Gerais que estão no capítulo introdutório da BNCC.
Exemplo: em Língua Portuguesa, a habilidade de produzir e editar textos permite trabalhar com os alunos várias competências além da Comunicação. O Conhecimento, pensando como a informação pode ser aplicada e adaptada a diferentes contextos socioculturais, a Cultura Digital, na exploração de plataformas online para veicular a produção, e até o Autoconhecimento, na aquisição de autoconfiança para transmitir suas próprias ideias. Vale lembrar que jogos e brincadeiras também oferecem a oportunidades de trabalhar o Pensamento Criativo, a Empatia e a Colaboração em qualquer componente.
6) PROGRESSÃO: é preciso ter em mente quais habilidades precisam estar garantidas em cada etapa, pensando que a aprendizagem segue uma sequência de complexificação, conforme os anos escolares avançam.
Exemplos: no 2º ano do Ensino Fundamental, em Ciências da Natureza, os alunos devem aprender a descrever características de plantas e animais (tamanho, forma, cor). No 3º ano, devem identificar características sobre o modo de vida desses animais – o que comem, como se reproduzem. No 5º ano, a aprendizagem se intensifica com o estudo de cadeias alimentares.
Vale lembrar que todas as habilidades e competências previstas na BNCC precisam aparecer nos currículos estaduais. Nada pode ficar de fora! Além disso, é importante prestar atenção aos verbos utilizados no texto da habilidade para não diminuir a complexidade do processo cognitivo. Por exemplo, se a BNCC fala em relacionar informações, o currículo local não deve falar em identificar informações, pois identificar é menos complexo do que relacionar. Lembre-se de não é apenas o conteúdo em si que precisa estar contemplado na descrição de cada habilidade, mas também os processo cognitivos envolvidos: identificar, diferenciar, relacionar etc.
Para ajudar em todo esse processo de construção dos currículos, o MEC desenvolveu uma ferramenta em que as habilidades de cada um dos componentes é comentada, indicando oportunidades de agregar mais conhecimento, recursos e identidade de acordo com o que está proposto na BNCC: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/download-da-bncc. Basta fazer o download do material. É possível selecionar o componente e o ano da etapa, no caso do Ensino Fundamental, ou navegar por Campos de Experiência no caso da Educação Infantil. A ideia é treinar o olhar para enxergar, no currículo de cada estado, oportunidades de aprofundar e de se apropriar do que está proposto. Não deixe de navegar!
Preparado para contribuir? Informe-se sobre as datas de consulta pública do currículo do seu estado junto à Secretaria Estadual de Educação e participe!
Confira aqui cards com dicas para ajudar nas contribuições às consultas públicas