Nordeste

Estrutura da BNCC é pauta de audiência em Fortaleza

Fortaleza foi a sede da terceira Audiência Pública sobre a parte do Ensino Médio da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Organizado pelo Conselho Nacional de Educação (CNE), o evento aconteceu em 5 de julho de 2018.

Eduardo Deschamps, que assumiu a presidência da comissão bicameral da BNCC após a saída de César Callegari, conduziu a mesa e ressaltou a importância de ouvir toda a sociedade e os professores no processo. Participaram da mesa de abertura representantes da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes), da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), de outras representações de estudantes e professores. Alessio Costa Lima, presidente da Undime, conselheiro do CNE e membro do Movimento Pela Base, destacou em sua fala inicial a necessidade de lembrar da alta taxa de evasão na passagem do Ensino Fundamental para o Ensino Médio: “Nessa etapa, muitos jovens interrompem os estudos e muitos dos que continuam são reprovados. Nesse sentido, a BNCC também traz uma possibilidade de melhorar essa questão, garantindo a progressividade do processo de aprendizagem”.

As contribuições de instituições e do público geral se concentraram principalmente em questionamentos sobre a estrutura do documento, que propõe o trabalho com os componentes por meio de áreas do conhecimento, e muitas vezes esbarraram em definições estabelecidas pela Reforma do Ensino Médio, um processo independente da construção da BNCC, como a obrigatoriedade de Língua Portuguesa e Matemática apenas. Pedidos de detalhamento sobre o funcionamento dos itinerários e sobre a forma como se dará a aprendizagem por áreas de conhecimento também foram frequentes nas faltas dos participantes.

Confira trechos de algumas das participações:

 

“Considero importante a inauguração de uma visão de educação integral do estudante, que vê o educando de uma forma progressiva, em que ele pegue as competências e habilidades no Ensino Infantil, desenvolva no Fundamental e ainda mais no Ensino Médio. A gente precisa levar em conta que a implementação não passa só pela BNCC, mas pela valorização do magistério, pelo engajamento da família e da sociedade, e passa também por métodos de avaliação com base na evolução cognitiva dos estudantes. Fiz debates e discussões na minha turma e a BNCC, principalmente na parte linguagens, aborda o que queremos desenvolver hoje. Temos um cenário político nojento e queremos aprender a desenvolver nosso pensamento crítico, sobre política e sobre a realidade social.”

Caio Henrique Silva dos Santos, estudante – Conselho Jovem do Porvir

“O desenvolvimento integral do aluno ganhou bastante ênfase. Cada habilidade está vinculada a uma competência específica e com as competências gerais da BNCC, como pensamento crítico, resiliência e empatia. A organização está em áreas de conhecimento e essa mudança induz à interdisciplinaridade, mas ela também apresenta desafios, demandando a preparação e o planejamento para a formação dos professores.”

Felipe Michel – Fundação Lemann

 

 

“Nós queremos ter acesso a uma educação que não nos forme como alienados para nos tornamos apenas instrumentos do mercado de trabalho ou profissionais. Mas que nos forme como cidadãos experientes e íntegros, com a capacidade de decidir entre fazer faculdade ou seguir seu dom. Médicos, professores e advogados são muito importantes, mas algumas pessoas nasceram para ser artistas. Outras, escolhem o rumo do empreendedorismo. Por isso espero que a escola se torne um ambiente de descoberto de dons e talentos”. 

Ana Beatriz Silva Motta, estudante – Conselho Jovem do Porvir

 

“A ideia da BNCC é de especificar direitos. Se a gente não especifica, daremos educação de um tipo para uns e de outro tipo para outros. (…) Temos que dizer claramente para a sociedade que todos têm que aprender em um nível que os permita funcionar. E não pode haver uma desigualdade como a que vemos hoje. Desigualdade se refere a grupos de pessoas. Nós não podemos olhar para um resultado educacional e já dizer de onde vem”.

José Francisco Soares, relator da comissão bicameral da BNCC

 

Estão previstas ainda mais duas audiências públicas, uma em Belém (10/8) e outra em Brasília (14/9), totalizando as cinco sessões programadas, uma por região, ainda que a audiência do Sudeste tenha sido cancelada devido a protestos de um grupo de professores e estudantes. Vale lembrar que o CNE, por meio da plataforma http://cnebncc.mec.gov.br, está recebendo contribuições online sobre o documento até 29/08.